25.1.12

Substancial

Após deparar-se
- com aquele livro
nem comer direito conseguia

passava horas a fio
ruminando poesias

24.1.12

Extenuado

Partiu como uma brisa
um vento qualquer

de repente
sem que ninguém percebesse

parou de soprar
- em um último suspiro

20.1.12

Zen

Pode seguir viagem
- com calma

Eu não quero ter o karma

da tua morte
na minha alma

19.1.12

Teatro Dulcina

Do fundo do teatro
acompanho cabeças que valsam
- de um lado a outro
em busca do melhor ângulo

Esta plateia quase plana
um tanto mal planejada
oferece em paralelo
este outro espetáculo

18.1.12

O último olhar

No fim de seus dias
- no exílio injusto

trazia olhos de ressaca
amarelos e marejados


E tinha olheiras tão profundas

que lhe dragavam
- em rugas

o rosto todo

16.1.12

Correntes


O Rio corre
- em período de cheia

e arrasta os infortunados
desprovidos e desavisados

para além de suas margens

13.1.12

Ameaçado

Há clareiras onde havia ideias

e as fontes, poluídas
não inspiram qualquer confiança


o debate corre risco de extinção

12.1.12

Prematura

Mal chegava a ser esboço

um risco de vida

aquele traço interrompido

Coluna Semanal - Alternativa Cultural

A Alternativa Cultural é uma tradicional livraria, sebo, centro cultural, café e incentivadora da produção e difusão literária. A sede da Alternativa fica em Uberaba - MG, mas seu alcance - após 25 anos de história - torna-se cada vez mais amplo.

No final de 2010, meu texto-aforismo Sobre o ego foi impresso em um dos murais do café:



E agora, no começo de 2012, fui convidado para colaborar semanalmente no blog da Alternativa Cultural. Minha estreia foi na terça-feira, dia 10 de janeiro, e eu espero vida longa a essa parceria!

Agradeço à equipe e aos sócios da Alternativa Cultural, em especial a Thais Helena e a Catia, pela oportunidade-espaço.

Aos que quiserem conferir o blog e conhecer melhor sobre a Alternativa Cultural:

11.1.12

Destempero

Remoendo desconfiança

deixou um gosto amargo

com um toque de vingança

Artigos - Sobrecapa Literal

Está no ar a edição de janeiro da Revista Sobrecapa Literal, editada por Ana Cristina Melo. A partir desta edição, estou participando da coluna Sem poesia não dá, em parceria com seu idealizador, Sérgio Bernardo.


Para conhecer mais sobre o projeto e ler a atual edição, acesse:
http://www.sobrecapaliteral.com.br/doc/SobrecapaLiteralEd12.pdf

10.1.12

Sonho ruim

Mãos ofegantes percorreram-lhe o entrepernas por baixo do lençol. Quando abriu os olhos, o pesadelo estava apenas começando.

Na manhã seguinte, mesa do café posta, a mãe desconversou:

- Foi apenas um sonho ruim

Entrevista - Tabletes Culturais

A escritora Joana Cabral, autora do livro Fragmentos do Desencontro, entrevistou-me - por e-mail - para o site Tabletes Culturais, um projeto administrado por cinco mulheres (uma com sete anos de idade) que escrevem sobre literatura e cultura em geral.

Para conhecer o site e ler na íntegra a entrevista, clique aqui.



Entrevista para o site Tabletes Culturais:


TC) Para você o que é ser escritor?

Rodrigo Domit - Acredito que é possível dividir o termo, tal como as especializações, em lato e stricto sensu. No sentido amplo é o sujeito que escreve e que compartilha seus textos. O sentido estrito exige um pouco mais: é a pessoa que encara a escrita de maneira profissional - ainda que seja a profissão paralela - e que publica e distribui seus textos nos suportes mais tradicionais: livro e e-book.
Ainda que possa parecer uma visão hierarquizada, penso que não existe um meio de apontar se um escritor é melhor por encarar de maneira profissional e publicar em formato tradicional. Muitos bons escritores ficam de fora do mercado e transformam literatura em hobby, ao passo que muita gente ruim está por aí, nas estantes de livrarias. Espero que os e-books e as publicações independentes, cada vez mais acessíveis, tornem mais tangível a ideia de ser escritor no sentido estrito.


TC) O seu livro é de contos. Você acredita no mercado editorial para os contistas? Já teve algum livro recusado por ser de contos?


Rodrigo Domit - Neste ponto vou ser um pouco radical: eu não acredito no mercado editorial para autores em início de carreira, independente do gênero. O mercado editorial é um negócio e o autor estreante é um investimento de risco; Sendo assim, em regra, as grandes editoras descartam sem nem ler, enquanto as pequenas e médias especializam-se nas pequenas tiragens. Aí, para ter lucro com tiragens pequenas, a editora precisa ou publicar muita gente - e dar pouquíssima atenção em divulgação e distribuição para cada livro - ou publicar poucos autores, com um pouco mais de foco, mas com um preço de capa mais elevado. Não é preciso ser especialista no mercado para reparar que ambos os caminhos estão longe do ideal para quem está começando agora - sem divulgação ou com preço muito alto, o autor tende a ficar restrito a amigos e parentes.
Vive em ilusão o escritor que acredita que conseguir uma editora é algo extremamente complicado e que, após esta fase, colherá os frutos de seu trabalho. Hoje em dia, conseguir uma editora é a parte mais fácil; O verdadeiro problema está em como divulgar e distribuir a obra. Dependendo do caso, é mais vantajoso para o autor publicar-se de maneira independente, eliminando assim as editoras que funcionam apenas como intermediários entre ele e a gráfica; Algumas não oferecem nem capa, revisão e diagramação - só imprimem o livro com o selo deles na capa e colocam em algum site para vender.

É claro que há pequenas e médias editoras sérias e competentes, mas essas também sofrem na mão das redes de livrarias e distribuidoras que compõem a outra face do mercado editorial... Não acaba mais o texto se eu for falar dos problemas que afetam o ciclo do autor até o leitor.

Quanto à parte de ter livro recusado: o Colcha de Retalhos foi finalista do Prêmio Nacional SESC em 2008 e eu, na mais pura inocência, entreguei uma cópia para avaliação da editora que publicou a obra vencedora. Nunca tive resposta! Então, acho que eu ainda posso me gabar de nunca ter um livro recusado, foi só ignorado.
O processo de avaliação de originais é bem complexo e cada um tem uma opinião distinta sobre esse processo e até mesmo sobre influência dele na escrita: tem gente que fala que tem que escrever algo pensando no que pode ser comercializado, tem gente que diz que é preciso tentar descobrir a tendência do próximo verão e antecipar a escrita no tema, tem gente que fala que é preciso ter um agente literário - para o autor só preocupar-se com a escrita - e tem aqueles mais puristas, aguardando que alguém descubra seus talentos. Não dá para estabelecer um caminho certo ou errado, só escrevendo e arriscando que podemos descobrir onde nos encaixamos - se é que nos encaixamos - no mercado da literatura.


TC) Qual a importância dos concursos literários para o seu percurso de escritor?

Rodrigo Domit - Os concursos literários - ao lado dos exercícios de escrita exaustivos e das leituras prazerosas - foram essenciais no meu processo de formação como escritor. Nunca fui de gostar muito do que eu escrevia, mas em 2007 eu descobri os concursos literários e, na primeira tentativa, fui selecionado para a coletânea do Concurso de Contos Luiz Vilela. Hoje eu sei o quanto este prêmio é disputado, mas até o resultado eu não sabia. Quando eu descobri um pouco mais sobre a importância do concurso, comecei a pensar que, se uma comissão julgadora repleta de renomados literatos gostou do meu conto, alguma qualidade ele devia ter, né? E aí eu decidi que devia virar escritor mesmo.

Por conta da importância que dou para os concursos literários no incentivo à produção literária, criei em 2011 o blog Concursos Literários, no qual ajudo a divulgar editais e resultados de certames organizados por todo o país.


TC) Como foi o início de sua vida na literatura e o que diria para os escritores que estão começando o caminho?

Rodrigo Domit - Eu passei por alguns momentos complicados em 2003; Naquela época, conheci os livros do Eduardo Galeano e devorei uns três ou quatro na sequência. Eu já gostava de ler, mas foi naquele momento que eu peguei gosto mesmo pela leitura; Depois disso foi só um passo para começar a escrever. No entanto, apenas em meados de 2006 que eu decidi me dedicar mais à escrita; Afinal, se todo profissional e todo artista passa por um período de formação, treinos e ensaios, por que é que os escritores não teriam que passar? Com o tempo comecei a colher os frutos em concursos literários, comunidades virtuais e no blog de exercícios literários que mantenho até hoje, o Tiro Curto.


TC) É possível viver só da escrita?

Rodrigo Domit - Se você tiver uma grande editora, uma agência literária ou uma rede de livrarias é possível viver da escrita alheia. Sendo escritor fica bem mais difícil...

Há exceções à regra, mas alguns dos maiores escritores do país sustentavam-se como funcionários públicos - cito Machado de Assis e Guimarães Rosa como expoentes. Como exemplo mais recente: o Cristóvão Tezza só conquistou independência do cargo que ocupava após o sucesso e as pomposas premiações pelo seu décimo terceiro livro, O filho eterno.

9.1.12

Revista ler&Cia

O conto Psicose, selecionado no 3º Concurso de Contos da ler&Cia, foi publicado na edição de Janeiro/Fevereiro da referida publicação.

Para complementar a premiação, o texto ainda foi muito bem ilustrado pelo Robson Vilalba.


A revista está disponível para download no endereço abaixo:

Aqueles que preferirem ter um exemplar em mãos podem pegá-lo gratuitamente em uma das lojas do grupo Livrarias Curitiba:


Clique na imagem para ampliar

Suspeitos

O sangue frio
percorria olhares foscos

não havia qualquer lampejo
- ou emoção

na sessão de linchamento

3.1.12

Coluna "Ler para ser" - Rádio FM UEL

O texto Labirinto, um dos que compõem o livro Colcha de Retalhos, foi lido pela professora Lucinea Rezende na edição de Natal da coluna "Ler para ser", na Rádio FM UEL.


Para ouvir o programa, acesse:
http://www.uel.br/uelfm/arquivo.php?id=8352

Para conferir o texto da coluna, acesse:
http://bit.ly/lerparaser-labirinto

Sujeitos ocultos

Suicidou-se o ativista


a partícula silenciada

no Estado apassivador

2.1.12

Psicose


Nunca fui de confiar em gente sem pescoço, mas aquele era o único sujeito disposto a levar-me a um bairro tão próximo - no taxímetro dava menos de quinze reais e os motoristas que rondam a rodoviária costumam idealizar longas idas à zona sul, dando-se ao luxo de desprezar as corridas até o centro.

Ao abrir a porta traseira, reparei que estas poderiam ser mantidas trancadas pelo motorista. Prevendo um possível risco, deixei a mochila no banco de trás e sentei-me na frente. Era melhor mesmo estar perto, caso fosse necessário entrar em um combate corpo a corpo. Desde que entrou no carro, desleixado, sem nem colocar o cinto, fiquei de olhos nos movimentos daquele sujeito mal encarado, meio corcunda para o lado direito - o que deixava o lado esquerdo um pouco abaixado, de barba e bigode por fazer, com um daqueles chapéus que não sei dizer se é uma boina ou um boné sem aba.

Durante o trajeto, tentei ficar em silêncio, mas, após alguns minutos, ele puxou conversa. Com um grunhido emburrado, tentei puxar de volta, mas ele insistiu, achando que eu não tinha entendido, e eu cedi. Acabamos trocando duas ou três frases decoradas sobre a violência na cidade - no dia anterior haviam roubado um cara da TV e deu em tudo que é jornal, os bandidos não respeitavam mais ninguém. Apesar da conversa, eu ficava atento a cada mudança de marcha, quase me precipitei a impedi-lo quando ele foi pegar o rádio para entrar em contato com a central.

Após meu engano, fiquei relaxado por alguns momentos. No entanto, ao olhar pela janela, percebi que estávamos passando por um viaduto pelo qual não deveríamos passar - ao menos não pelo caminho que eu costumava fazer. Em um primeiro momento, cerrei os punhos e contrai cada músculo do corpo, pensei que ainda podíamos tomar o rumo certo, quem sabe cortando por trás do Passeio, ou pela Tiradentes. Mas foi então que ele começou a desacelerar, em pleno viaduto, local desconhecido e perigoso, afastado das ruas mais movimentadas. Eu precisava ser rápido, utilizando as armas que tivesse no momento - que se resumiam a uma caneta esferográfica e um pacote de balas de menta. Em um movimento só, tirei a caneta do bolso, apertei-a contra o pescoço do safado e ordenei que acelerasse. Surpreendido em pleno pulo, ele começou a acelerar e tentou retrucar, disse-me que tinha família e que só estava tentando ganhar a vida. Não me deixei levar por aquele choro falso. Além do mais, para cima de mim é que ele não a ganharia. Ao alcançar quase cem por hora, puxei o volante para o meu lado, com toda a força possível.

O carro bateu no muro de contenção - por muita sorte não caiu do viaduto - e ainda girou duas ou três vezes antes de ser atingido pelo carro que vinha logo atrás. Eu, que estava de cinto, saí praticamente ileso. O pilantra, no entanto, que já devia estar de tocaia, pronto para me aplicar algum de seus golpes, morreu na hora, dizem que quebrou o pescoço com o impacto no volante. Eu duvido muito, aquele bandido nem tinha pescoço.








2011 - III Concurso de Contos ler&Cia - Livrarias Curitiba - PR;
Publicado na edição de Janeiro/Fevereiro de 2012 da revista ler&Cia


Ilustrado por Robson Vilalba - http://robsonvilalba.carbonmade.com/

1.1.12